Rodellar é um local feito de particularidades muito especiais. Uma delas diz respeito à estrada repleta de veículos “armadilhados” de todas as formas. A palavra de ordem é “casa-carro” e claro que uns têm mais as manhas do que outros. O mesmo é dizer que tem quem durma, como pode, no banco de trás do carro até aqueles cuja furgo mais parece uma verdadeira mansão com salão de baile, banheira de sauna e suite incluída.
Foto by Hugo Peniche
É perante este panorama que tem perpetuado ao longo das gerações, “pão de forma” e actualmente “califórnia hotel sob rodas”, que chegam ao pueblo os marcão. “Ah e tal a gente é que sabe, qual dormir no carro qual quê, a malta tem lá um perfect spot e como somos mais espertos que os outros, como aliás todos os tugas são, passamos a acampar por ali e ao lado do carro montamos ainda alte sala de jantar que pode também servir para altes pequenos almoços e etc.”.
Mas estamos também na presença de um pueblo com gente zelosa de que as regras sejam cumpridas. Se for então possível manipular as coisas de forma que, para além de cumprir a lei, os visitantes gastem mais dinheiro e encham os bolsos dos também zelosos comerciantes melhor ainda.
Foto by Hugo Peniche
Assim devem ter pensado Orácio e Pancrácio (denominações de código aplicados para evitar designar os nomes de Florentino e seu companheiro) quando todas as manhas se decidem mascarar de florestais, de modo a azucrinar a cabeça daqueles que, ou com menos manhas, ou com menos possibilidades económicas, ou ainda mais Chico-espertice, não têm como se esconder decentemente dentro de uma qualquer califórnia artilhada e com vidros fumados.
Foto by Hugo Peniche
Foi desta forma que passou a tornar-se familiar o discurso dos florestais: “Ostede onde estay dormindo? Ostede estay en la carretera!.. estay proibido la acampada livre!.. ademas los ornillos es lo que mas estay proibido.. hoy te avisamos pero manana chamamos guardia civil!..”. Agora gramar com estes pintas duas vezes é chato mas à 4ª vez já é mesmo demais.
Foto by Hugo Peniche
Depois de mudar armas e bagagens para o refúgio “Kalandraca” os florestais não tardaram em esperar pela hora da vingança. Este prato foi mesmo o prato do dia, que deu para a semana inteira e acabou por ser servido sempre bem quente e acompanhado de altes doses de risada.
Foto by Hugo Peniche
Desta forma Orácio e Pancrácio marcaram presença na festa de Carnaval de Rodellar, os dois comunicavam regularmente pelos seus aparelhos de rádio para garantir a certeza de que tudo estaria proibido, sobretudo os ornillos!.. Quando o verdadeiro Orácio tomou lugar na festa para beber uns copos cos seus compatriotas já a risada geral era uma garantia. Imagine-se só chegar numa festa e perceber que alguém está mascarado de ti e esforçando-se também por fazer a tua figura ridícula, simplesmente demais. A noite terminou com Orácio a beber umas jolas com os seus sósias e todos os amigos do florestal a partirem o coco a rir.
Foto by Hugo Peniche
Consta que após tal festa a actividade dos florestais diminuiu. Desta forma Orácio decidiu passar a mascarar-se de empregado do seu próprio estabelecimento comercial, com um aventalinho não menos ridículo e uma cabeça do tamanho da gran boveda.
Foto by Hugo Peniche
